A História da "GELOSO"

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Tradução por PY1TVI - Fábio

Artigo original de tony I0JX

Geloso: uma importante contribuição italiana para o Radioamadorismo.

John Geloso foi um italiano nascido na Argentina em 1901,quando seus pais estavam temporáriamente fora da Itália. Sua família retornou para Savona, Itália em 1904 quando John estudou na escola naval. Após terminar os estudos, John iniciou uma oficina eletromecãnica onde ele mesmo construia varios itens, patenteados por ele. Em 1920, foi para os estados Unidos e trabalhou para a Pilot Electric Manufacturing em Nova York onde frequentou a Copper Square University. Após sua formatura em 1925 tornou-se o engenheiro chefe da Pilot. Em 1928 esteve envolvido com a primeira transmissão de televisão ( utilizando disco mecânico de sincronismo). Em 1931 retornou a Itália para dar início a seu próprio negócio. Pelo meio dos anos 30, o estabelecimento Milanês John Geloso S.A. já era a mais importante indústria de equipamentos eletrônicos italiana, representando uma das raras alternativas de importações de receptores para países estrangeiros. Naquele tempo, radios estavam à preços de feira, comparados aos salários e era uma forma muito comum comprar equipamentos em forma de kit ( muito comumente "Não está incluído o gabinete de madeira", em que sempre alguém se oferecia para costruí-lo).

Geloso estava construindo componentes como interruptores, capacitores, potenciômetros, transformadores, etc. ( realmente feitos em Milão, não bugiganga feita em Taiwan...) ; na outra mão a autarquia foi uma das diretrizes chave da era facista.

Geloso também esteve ativa no campo militar, uma testemunha curiósa é este transceptor de 1938 para o range de 50 - 58 Mhz.

O painel dianteiro traz a marca italiana para "pequena caixa de radio - em acréscimo a m/m -180 estação photophônica"; por falar nisso, será que alguém tem idéia do que seja uma "estação photophônica" ? Isto emprega uma válvula de aquecimento direto de 4 volts ( uma Zenith tipo RRBF mais ou menos equivalente a uma Philips A409 ) trabalhando tanto como um receptor super - regenerativo ou como um transmissor auto - oscilador ( AM + FM ao mesmo tempo !). Levando-se em conta sua pequena potência de saída (algo em torno de 200 - 300 mW) e seu receptor meio surdo, consegui com sucesso trabalhar a estação G3ZYY em Cornwall, Reino Unido em 50.370 Mhz FM, com sinal muito bom, aproveitando a abertura de propagação. É interessante notar que a chave de comutação de RX/TX , sómente troca o valor da resistência de grade, absolutamente nada mais !

Após a Segunda Guerra Mundial, Geloso expandiu sua linha de produção, com uma grande seleção de radios, amplificadores de áudio, gravadores, televisores, toca - discos, etc... logo abaixo, voce vê um típico amplificador de áudio dos anos 60 ( modelo G215 - NA, doado por Joe I0AWJ) usando um par de EL84 em push - pull, para uma potência nominal de 15 W.

Sim, naquela época os fabricantes ainda eram sérios e declaravam a potência real, não essas esquisitíces que se veem hoje em dia, tipo "potência musical de picos instantâneos". Póde voce acreditar, que eu recentemente vi um amplificador de audio para automóveis (!!!) com duas EL84, fabricado para nostálgicos aficcionados da alta - fidelidade, anunciado como um amplificador de 200W ? Geloso nuca chegou a usar a expressão alta -fidelidade, ele sómente os chamava de amplificadores de alta - qualidade.
Todos os componentes era feitos por Geloso, igualmente capacitores, chaves e conectores.

Certamente, um dos mais populares itens da Geloso foi o gravador modelo G255 lançado em 1957. A maior parte das famílias italianas possuiam um destes.

Geloso também possuia uma linha de produtos para Radioamadorismo,que iniciou-se em 1952, com o primeiro receptor profissional com bandas exclusivamente de amador, o G. 207. Em 1955 a primeira "linha Geloso" foi lançada, era constituída do receptor G.207 -CR (considerada uma versão aperfeiçoada do original G.207) e o transmissor G.210 - TR.

(Com uma 807 modulada por duas 6L6G) Afoto abaixo mostra a aparêcia externa do G.210 - TR.

Esta é vista interna do G.210 - TR.

Digna de nota, é uma válvula octal indicada como uma 6AU6.

Esta foto provavelmente foi tirada antes de decidirem substituir esta válvula ( uma 6SK7 ?) por uma mais moderna e eficiente 6AU6.

Em 1958 chegou uma nova linha, o receptor G.209 - R ( 153.500 Liras daqueles dias, algo em torno de 71 US$) e o transmissor G 212 -TR ( 125.000 + 395 Liras de impostos sobre válvulas, num total de aproximadamente 58 US$ ), ainda com uma 807 no tanque final produzindo 40W RF, mas agora moduladas por duas 807.

A foto abaixo mostra a capa Boletim Técnico Geloso do inverno de 1958, descrevendo à ambos, o G.209 - R e o G.212 -TR. O Boletim foi publicado várias vezes por ano desde 1932, e continha uma muito detalhada descição dos novos produtos ( na prática era um manual de instruções ).

Em 1962 a última linha somente de AM/CW apareceu: no lado esquerdo da foto abaixo voce vê meu receptor G.4/214 ( superheterodino de dupla conversão para AM,CW e SSB, um pouco pobre em SSB em função de sua estabilidade de frequência e a ausência de um detetor de produto somado à falta de um ataque rápido e um declínio lento do AGC) e do lado direito, meu transmissor G.222 - TR AM/CW ( 60W RF produzido por uma 6146 modulada por duas 807 ). Ainda hoje, uso este equipamento com satisfação no segmento de AM nos 10 metros (29.0 - 29.1 MHz ): muitos contatos com os Estados Unidos !

Em 1964,surgiu uma versão melhorada (o G.223 -TR ), similar ao G.222 - TR mas apresentando estabilidade nas altas frequências pelo uso de um VFO modelo 4/105.

Todos os principais componentes dos receptores e transmissores Geloso, podiam ser vendidos separadamente, o que facilitava muito a construção caseira de transmissores, usando um VFO Geloso, bobinas do tanque final Geloso, choke de RF Geloso, capacitores variáveis Geloso, cristais Geloso, transformadores ( tanto de força bem como de modulação ) Geloso, e um receptor feito em casa usando um conjunto de RF Geloso, transformadores de FI Geloso, etc...

Numa época em que as pessoas pensavam muito em seus orçamentos apertados, oferecer as partes nais críticas do s equipamentos em blocos tornou Gloso muito popular entre os Radioamadores, inclusive nos Estados Unidos. Muitos radioamadores possuem em suas estações equipamentos ou componentes Geloso. Em 1963 Geloso lançou como parte de sua linha de conversores de VHF, modelos operando em bandas que nessa época só eram permitidas aos radioamadores norte americanos ( mod. G. 4/160 para 50 - 54 MHz e o modelo G.4/162 para 220 - 224 MHz ). Uma coisa interessante : o Boletim Técnico era bilingue, editado em italiano e em ingles: o que poderia ser normal hoje em dia, mas não nos anos 50 quando apenas uma pequena parcela da população italiana tinha conhecimento da lingua inglesa. Estes fatos demonstram que Geloso estava atacando agressivamente o mercado norte americano também.

Conversor para 144 MHz modelo G. 4/161 e sua fonte de alimentação G.4/159.

Modelo antigo com válvulas miniaturas convencionais, modelo G.4/151, e modelo 4/152 fonte de alimentação interna, que custava 38,325 Liras ou em torno de 18 US$.

O item mais popular da Geloso com certeza foi o VFO com o range de 10 a 80 metros.

A primeira versão (4/102) tinha uma válvula octal 6J5GT, uma válvula miniatura 6AU6 e uma 6L6, Que mistura interessante ! este VFO tinha a finalidade de excitar duas 807 em paralelo, era uma derivação direta da unidade osciladora e excitadora do primeiro transmissor Geloso ( o G.210 - TR ),ainda possuia uma 6V6 no lugar da 6L6, o que era suficiente para excitar a 807 do tanque final usada no G.210 - TR.

A versão posterior ( modelo 4/104 )possuia apenas duas válvulas, uma 6CL6 como osciladora e uma 5763 como excitadora, ambas miniaturas. Este VFO foi desenvolvido para excitar uma válvula no tanque final ( 807 ou 6146),apresentado pela primeira vez no segundo transmissor Geloso (o G.212 - TR ).

Na verade, a qualidade não era o que se esperava: problemas nos contatos das chaves, o VFO era um pouco instável (este VFO não era uma rocha...). É interessante notar esta solução que Geloso adotou para seu VFO para VHF (144 MHz), o modelo 4/103.

De fato o modelo 4/103 incorporava dois osciladores completamente separados ( duas 6CL6 ), sendo um a cristal e o outro de frequência variável. Uma 12AT7 é usada para comutar dois sinais e uma 5763 para excitar o tanque final. Abaixo descrevo como o boletim Técnico justificava a necessidade de dois osciladores:" O objetivo de possuir dois osciladores diferentes, um VFO e outro a cristal, é a possibilidade de manter breves contatos( para solicitar uma "oportunidade", etc...), e mais tarde ( com uma grande estabilidade de frequência ) para um comunicado normal."

Para melhor entender o que isso significa, devemos relembrar que naquela época ( pelo menos na Italia ), as operaçoes em 144 MHz eram normalmente controladas a cristal ( cada radioamador era reconhecido em sua área pela sua frequência de transmissão). Então um simples "break" era praticamente impossível se os participantes do QSO não possuissem receptores sintonizados na frequência de chamada local. Geloso ofereceu a solução deste problema : Utilizando o VFO, poderia ser dado um rápido "break" no QSO e dizer a um dos participantes :" Por favor me ouçam também, estou em 144.900 !"; então, operando a cristal, seria possível continuar esse QSO "three - way", com uma grande estabilidade de frequência.

Voltando a linha Geloso,a era do SSB teve início em 1965 com o transmissor G.4/225 (222.000 Liras ou 105US$) logo após acompanhado pelo receptor G.4/215. O transmissor possuia fonte de alimentação separada ( a compacta G.4/226 ao preço de 77.000 Liras ou 36US$), adotando SSB por rotação de fase.Em adição a outras válvulas mais comuns,usava duas 6146 no tanque final, entragando 100 W RF, tres 7360 ( hoje dificílimas de encontrar) no modulador balanceado, um nuvistor 6CW4 no oscilador a cristal, e uma EM37 ("olho mágico") para um ajuste firme do nivel de áudio da transmissão ! O gabinete continuou do mesmo tamanho do seu ancestral, o receptor G.207, então voce teria hospedado tres feras no seu "Shack". Veja duas delas abaixo (transmissor e fonte de alimentação ).

Logo depois, em 1967,surgiu a última linha Geloso, com o receptor G.4/216 e o transmissor G.4/228, com tres 6146 no tanque final, mais a fonte de alimentação do transmissor modelo G. 4/229. O gabinete era menor do que os seus antecessores,mas mesmo assim voce precisa de um local com espaço considerável para abrigar estas tres unidades em sua escrivaninha. Observe atentamente esta linha, ela não tinha as facicildades de um transceptor, voce tinha que efetuar "beat - zero"... Veja como se parece o novo gabinete pequeno( receptor G.4/216 ).

A compania deixou os negócios em 1972 e quatro anos depois John Geloso morria. Seu escritório central em Milão, Via Brenta 29 é hoje ocupado por um banco. Eu ia esquecendo de dizer que "Geloso" em italiano significa "Jealous" em ingles (zeloso em português).

Voltando a minha linha Geloso, gostaria de passar a voces alguns detalhes que encontrei no esquema do transmissor G.222 - TR. Antes de de tudo, acredite ou não, a chave de transmissão do painel frontal opera diretamente na tensão da rede; em outras palavras os transformadores só estão energizados quando transmitimos ou procedemos ao "beat - zero"!!! Real economia de energia, não é?

Da mesma maneira, ao comutar a chave de transmissão para recepção poderia se ouvir uma portadora no receptor até que os capacitores da fonte de alimentação estivessem descarregados. Para evitar isso, a chave de transmissão/recepção foi projetada de maneira que no meio do seu curso, um resistor é temporáriamente ligado a terra para descarregar rápidamente os capacitores eletrolíticos. Este diagrama prova que eu não estou brincando : voce pode ver um resistor de 33 - ohm por 1W, conectado aos

capacitores da fonte de alimentação, bem próximo e ligados à malha do coaxial do soquete do receptor.

Outra doçura. O maedidor do painel frontal pode convenientemente ser chaveado para medir tanto corrente de placa, corrente de grade ou a porcentagem de modulação, mas na posição de corrente de placa, o medidor é diretamente ligado à linha de alta - voltagem, isto significa que todo medidor (e a chave) estão com um potencial de 750 volts. Não se preocope : a tampa plástica do medidor protege você... aqui vai ele : o resistor marcado N.80164 é o shunt do instrumento através do qual atravessa a corrente de placa.

Depois desse passeio turístico, por favor de uma olhada no meu Geloso G.229 (1958), um interessante equipamento chamado de "Oscilófono" que tinha a incumb~encia de gerar tons audíveis ao pressionar um manipulador ( altofalantes não eram incluídos).Este equipamento foi expressamente projetado para o treinamento de telegrafia; acho que seja um item raro. Na forma de Kit deu preço em 1958 era de 13.500 liras ou 6US$, sem as válvulas.

Através da chave do painel frontal pode-se selecionar a frequencia do tom, desde 800 Hz, 1000Hz ou 1200 Hz. O conector marcado "Tasto"(manipulador em italiano) apresenta o tipico plug Geloso para microfone de tres pinos. A saida de áudio fica no painel traseiro e possui duas impedâncias,3,2 e 600 ohms. A forma de onda é muito boa no osciloscópio, próximo de uma senoide perfeita.

O que esta caixa robusta pode fazer hoje, que seja feito por minúsculos integrados, se voce necessita realmente de mais potência em um amplificador com circuitos integrados. O G.299 em seu lugar inclui :

_ Um transformador de força de 50W (feito pela Geloso é claro);

_ Um enorme capacitor eletrolítico duplo (fabricação Geloso);

_ Um transformador de saída Geloso;

_ Um transformador de áudio "two - winding" Geloso;

_ Duas válvulas 12AU7 e 6AQ5, não fabricadas pela Geloso, mas com um selo da produção ( John,se eu fosse voce,eu interrogaria duramente estes fabricantes de válvulas...).

O mundo era muito mais simples do que hoje, mas nós gostamos disto de qualquer maneira não é ?